Na semana passada, dia 3 de maio, minha mãezinha se foi,
para algum lugar muito melhor que o nosso e deixou tanta saudade, tanta
recordação...
Cresci sob as bênçãos de uma pessoa maravilhosa que sabia
dosar o carinho com a correta educação, que me encaixava logo nos eixos quando
eu fazia alguma besteira apenas com o
seu olhar direto e fixo; que não media esforços para me fazer feliz, para
conseguir as coisas que eu desejava; seja encarar uma fila para comprar um par
de patins em promoção em encarte, seja para me acompanhar na porta de hotel
para ver um ídolo musical, ou ainda para fazer aquela receita de alguma
guloseima que eu estava com vontade de comer... E foram tantas iguarias que ela
fez para mim ao longo de sua vida... Bastava eu mencionar que logo logo ela
materializava a receita. Fui uma criança muito arteira e ela me aplicava o castigo na medida certa. Se eu tivesse que
tomar uns tapinhas ela o faria. Muitas vezes meu pai se colocava a frente dela
e acabava por apanhar um pouquinho por mim. Foi também minha costureira, transformava em
roupa aquilo que minha invencionice de estilista amadora criasse. Se
disponibilizava inteiramente para mim a todo e qualquer instante. Era minha companheira de “bater perninha” nos
shoppings da vida e de muitas viagens. Era para ela que eu contava não só as
coisas sérias mas também assuntos amenos, trocava receitas, falava da moda,
pedia para ela ir encontrar algo para mim... Minha alegria era ligar todas as
manhãs e ouvir sua voz me dizer toda feliz: Tudo bem?
Eu lhe fazia macaquices todos os dias em que a via,
abraçava, beijava, disputava o ultimo beijo com meu marido antes de irmos para
o trabalho. Sim, porque meu marido passou a ser considerado por ela seu filho
também e a ele, ela também nunca media nenhum esforço para agradar.
Não precisei ser mãe para dar o devido valor a minha própria
mãe. Sempre lhe devotei um amor e um reconhecimento imensos. Mas depois que a minha filha nasceu... Ela se desdobrou em duas e posso afirmar que foi uma avó
muito mais participante do que o papel natural de uma avó : curtiu muito,
paparicou, brincou, transmitiu valores de vida, sofreu nos momentos de doença,
se preocupava imensamente com a alimentação e a vidinha de sua netinha.
Meus pais sempre me deram os melhores exemplos para crescer
digna e honestamente. Foram e são meu verdadeiro exemplo de casal que se ama e se
respeita. Sempre um estava ao lado do
outro a todo momento. Onde ia um, lá estava o outro. O que um dizia, o outro
concordava. Meu pai nunca mediu esforços para fazer tudo que viria a deixar
minha mãe feliz.
Eu falava todos os dias que a amava mais do que tudo e fiz
questão de repetir em seu leito de morte. Fiz o que pude nesse mês e meio em
que ficou adoentada, usei os dons que Deus me deu e os que ela me ensinou a ter
para tentar o possível e o impossível pelo seu conforto e pela sua recuperação.
Mamãe não quis continuar, penso assim, o tratamento. Ela
pode ter pensado que nós sofreríamos muito mais com o prolongamento e preferiu
abreviar isso. Obviamente nós somos seres egoístas, queremos conosco nossos
entes queridos de qualquer jeito e já nos preparávamos para tê-la conosco da
forma que fosse mas tenho que aceitar que não conhecemos todos os desígnios de
Deus e qual é nossa missão nesta vida.
Minha mãe foi e sempre será muito querida por inúmeras
pessoas. Por onde passava ela cativava com seu jeito brincalhão, simples e
marcante. Assim só ia aumentando sua legião de amigos. O seu velório/enterro/missa de 7 dia foram
prestigiados por uma imensa legião de amigos o que foi o alento para mim e para
meu pai, sinal de que desta vida não levamos nada a não ser as conseqüências de
nossos atos. Minha mãe brilhou e sempre brilhará.
Não vou esconder que choro muito lembrando que sempre vou
sentir uma saudade imensa mas ao mesmo
tempo eu penso que tenho que enviar
orações para ela seguir seu caminho de luz e que ela cumpriu com louvor
sua missão nesta existência. Sou uma
pessoa abençoada por ter sido gerada, criada e amada por um ser humano
extraordinário. E está benção foi estendida a todos os amigos e familiares que
tiveram a oportunidade de com ela conviver.
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